
Em uma decisão inédita, a Justiça de São Paulo garantiu os direitos de uma empresa que decidiu processar a Redecard por chargeback indevido.
Chargeback é o processo pelo qual um comprador contesta uma transação em seu cartão de crédito ou débito, solicitando o reembolso do valor pago. Isso geralmente ocorre quando o comprador alega que não recebeu o produto, que o produto estava defeituoso, ou que não autorizou a transação.
No entanto, em muitos casos, esse mecanismo pode ser usado de forma abusiva, prejudicando comerciantes que atuam de boa-fé. O pagamento com cartão é amplamente utilizado no comércio, mas disputas como essa podem gerar prejuízos significativos.
Esse caso, por exemplo, envolve a retenção de pagamentos de vendas já realizadas e entregues, com a Redecard se recusando a transferir os valores para o comerciante. Essa vitória judicial pode abrir precedentes para outros casos semelhantes e reforça a importância dos direitos do consumidor.
Por que a empresa escolheu processar a Redecard?
A empresa em questão, que trabalha com distribuição de descartáveis, realizou quatro vendas no valor total de R$ 34.689,30, com pagamentos processados pela Redecard.
Apesar das transações terem sido aprovadas inicialmente e os produtos entregues, a Redecard realizou chargebacks, retendo os valores e não transferindo-os para a conta da empresa. Então, o comerciante decidiu contestar essa ação, apresentando provas da regularidade das vendas, incluindo notas fiscais e comprovantes de entrega.
No entanto, a Redecard se baseou em uma cláusula contratual abusiva que permitia a realização de chargebacks em casos de suspeita de fraude, mesmo após a aprovação inicial das transações. Essa prática gerou um estorno indevido, causando prejuízo financeiro ao comerciante.
A decisão judicial
Na sentença proferida em 12 de maio de 2025, a juíza Dra. Renata Meirelles Pedreno, da 1ª Vara Cível de Cotia, São Paulo, analisou o caso e concluiu que a Redecard, como intermediária de pagamentos, tem a obrigação de garantir a segurança e a integridade das transações.
A aprovação inicial das transações gerou uma expectativa legítima por parte da empresa de que receberia os pagamentos, e a retenção dos valores configurou um ato ilícito.
A juíza destacou que a cláusula contratual abusiva invocada pela Redecard, que permitia chargebacks após a aprovação das transações, violava os princípios de boa-fé e equilíbrio contratual. Assim, a Redecard foi condenada a pagar o valor de R$ 31.422,02, correspondente aos pagamentos retidos, acrescidos de juros e correção monetária.

A sentença também declarou nula a cláusula contratual, impedindo sua utilização em casos futuros.
A cláusula contratual abusiva transferia integralmente o risco de fraude para o comerciante, mesmo que a Redecard tivesse aprovado as transações. Isso contraria o princípio de que a parte que se beneficia economicamente de uma atividade, como a Redecard, que recebe taxas por processar pagamentos, deve arcar com os riscos inerentes.
A justiça entendeu que a Redecard, ao autorizar as transações, assumiu a responsabilidade da administradora de cartões, não podendo reter pagamentos com base em cláusulas que eximem sua responsabilidade.
Essa decisão judicial tem um impacto significativo para o setor de comércio eletrônico e para comerciantes que dependem de transações com cartões de crédito. Ela estabelece um precedente importante, reconhecendo que cláusulas que transferem o risco de fraude ao comerciante são nulas.
A vitória da empresa demonstra que é possível obter justiça em casos de práticas abusivas, incentivando outros comerciantes a buscarem seus direitos do consumidor.
Além disso, a decisão reforça a responsabilidade da administradora de cartões em garantir a segurança das transações, protegendo comerciantes de prejuízos causados por estornos indevidos. Esse precedente pode influenciar futuras disputas, promovendo maior equilíbrio nas relações entre administradoras de cartões e comerciantes.
A importância de um advogado especializado
A atuação de um advogado especializado em cartão de crédito e disputas com administradoras de cartões foi essencial para o sucesso da ação.

Profissionais qualificados podem identificar cláusulas abusivas, reunir provas robustas e formular estratégias eficazes para defender os interesses do cliente. Por isso, em casos como esse, a experiência jurídica ajuda o consumidor navegar pelas complexidades do processo judicial e garantir que os direitos sejam protegidos.
O que fazer se você for vítima de chargeback indevido?
Se você enfrentar um chargeback indevido, alguns passos podem ajudar a proteger seus direitos:
- Documente tudo: guarde comprovantes de venda, entregas e comunicações com a administradora.
- Entre em contato com a administradora: tente resolver o problema diretamente com a Redecard ou outra empresa envolvida.
- Se necessário, busque assessoria jurídica: um advogado especializado pode orientar sobre como agir.
- Conheça seus direitos: informe-se sobre as leis de proteção ao consumidor e aos comerciantes no Brasil.
- Envolva órgãos de defesa: em alguns casos, órgãos como o Procon podem ajudar a mediar disputas.
Esse caso é um marco para comerciantes que enfrentam chargebacks indevidos. A decisão judicial não apenas garantiu a indenização do prejudicado, mas também serve como um alerta para administradoras de cartões sobre a necessidade de práticas éticas e responsáveis.
Detalhes do caso
Data da decisão: 12 de maio de 2025
Juíza: Dra. Renata Meirelles Pedreno
Número do processo: 1015236-67.2024.8.26.0152
Valor da indenização: R$ 31.422,02