Imagine uma oferta que parece caída do céu: um bilhete de loteria premiado, pronto para mudar a vida de quem o compra por uma fração do valor. Mas e se isso for apenas uma armadilha bem montada?
Recentemente, uma história real destacou os perigos dessa tática criminosa. Uma idosa de 66 anos, moradora de São José dos Campos, no interior de São Paulo, perdeu mais de R$ 3,2 milhões ao cair no golpe do bilhete premiado.
Esse caso não só revela a sofisticação dos criminosos, mas também serve como alerta para todos sobre fraudes e estelionato e a importância da vigilância.
O episódio ganhou destaque em uma reportagem do G1, onde o advogado Léo Rosenbaum, especialista em golpes financeiros e CEO da Rosenbaum Advogados, compartilhou insights valiosos. Ele enfatizou como idosos são alvos frequentes devido à menor familiaridade com tecnologias digitais.
Vamos explorar os detalhes dessa ocorrência, entender o mecanismo do golpe e aprender como se proteger, sempre priorizando a proteção ao consumidor.
Como funciona o golpe do bilhete premiado
Esse tipo de estelionato é antigo, mas continua eficaz por explorar a confiança e a ganância humana.
Tipicamente, os golpistas abordam a vítima – muitas vezes uma pessoa idosa com bom poder aquisitivo – alegando possuir um bilhete de loteria premiado.
Eles dizem que não conseguem resgatar o prêmio por algum motivo inventado, como falta de documentos ou restrições pessoais. Em troca de ajuda financeira imediata, oferecem o bilhete por um valor bem inferior ao suposto prêmio.
No caso relatado, a idosa foi convencida a fazer diversas transferências bancárias, totalizando mais de R$ 3,2 milhões. Os criminosos usam táticas persuasivas, como encenações com comparsas que fingem interesse no negócio, criando uma sensação de urgência e oportunidade única. O golpe pode ocorrer tanto em encontros presenciais quanto por meio de comunicações digitais, ampliando seu alcance.
Léo Rosenbaum, em sua entrevista, destacou a vulnerabilidade específica dos idosos.
“Idosos acabam sendo mais suscetíveis a golpes que envolvem transferências digitais, porque estão menos acostumados com as plataformas. Eles são alvos também de outros golpes, como do falso advogado e do motoboy. E a principal dica para todos é: desconfiar de tudo o que vem fácil”
Léo Rosenbaum
Essa declaração reforça como os criminosos exploram lacunas emocionais e técnicas. Uma vez que a vítima morde a isca, os valores são rapidamente movimentados para contas laranjas, casas de câmbio e até convertidos em criptoativos, dificultando o rastreamento.

Detalhes da operação policial no caso recente
A Polícia Civil de São Paulo agiu com rapidez nesse incidente ocorrido em novembro de 2024. Uma operação batizada de “Golpe da Sorte” resultou na prisão de duas mulheres e no bloqueio de R$ 74,7 milhões em contas bancárias ligadas a uma quadrilha de pelo menos 23 pessoas.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em cidades como São José dos Campos, Rio Claro, Nova Odessa, Atibaia, Salvador e Londrina.
Investigações revelaram que os valores transferidos pela idosa foram fracionados e enviados para casas de câmbio, onde eram transformados em criptoativos. A polícia utilizou cruzamentos de dados bancários, relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e informações de operadoras de criptomoedas para mapear o fluxo do dinheiro.
Itens apreendidos incluíram R$ 300 mil em espécie, 30 mil euros, 50 mil dólares, celulares, computadores e um carro de luxo.
Esse desdobramento mostra como os grupos criminosos operam de forma estruturada, atuando em múltiplos estados e lavando dinheiro para ocultar os rastros. A ação policial não só interrompeu as atividades da quadrilha, mas também destacou a necessidade de cooperação entre autoridades para combater esses esquemas.
Riscos associados e impacto nas vítimas
Além do prejuízo financeiro imediato, o golpe do bilhete premiado causa danos emocionais profundos. Vítimas como a idosa de São José dos Campos enfrentam vergonha, estresse e até problemas de saúde decorrentes do trauma. Muitos hesitam em denunciar, o que permite que os criminosos continuem livres.
Rosenbaum também apontou a responsabilidade das instituições financeiras em casos assim.
“O banco deve ter controle e responsabilidade sobre operações financeiras que fogem do perfil de risco do cliente. Então se um cliente está acostumado a fazer transferências de no máximo R$ 10 e do nada passam a fazer de R$ 40 mil, o banco deve acionar um sistema de segurança e confirmar se essa transferência maior está de fato sendo feita pelo cliente. Então várias decisões judiciais apontam responsabilidade também dos bancos em transferências altas, que acabam sendo golpes”
Léo Rosenbaum
Essa visão jurídica ressalta como bancos podem ser acionados judicialmente se falharem em detectar transações atípicas. No contexto dos direitos do idoso, leis como o Estatuto do Idoso reforçam a proteção contra abusos, garantindo que vítimas tenham suporte para recuperação de prejuízos.
Outros golpes semelhantes e padrões comuns
O golpe do bilhete premiado não é isolado. Ele se assemelha a outros esquemas de crimes cibernéticos, como o do falso prêmio online ou o da herança inesperada. Todos exploram a promessa de ganhos fáceis.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, golpes financeiros cresceram com a digitalização, afetando especialmente grupos vulneráveis.
Por exemplo, no golpe do motoboy, criminosos ligam fingindo ser do banco e convencem a vítima a entregar cartões. Já no do falso advogado, prometem resgates de processos judiciais inexistentes. Esses padrões mostram a importância de educar a população sobre sinais de alerta, como ofertas urgentes ou pedidos de dados pessoais.
Dicas práticas para prevenção e proteção
Prevenir é sempre melhor que remediar. Aqui vão orientações claras para evitar cair em armadilhas como essa:
- Desconfie de ofertas que parecem boas demais para ser verdade. Se alguém oferece um bilhete premiado na rua ou online, pare e pense duas vezes.
- Nunca compartilhe informações pessoais, como senhas ou dados bancários, com desconhecidos.
- Verifique a autenticidade de sites e mensagens. Use ferramentas de busca para checar se a oferta é real.
- Fortaleça suas senhas com combinações de letras, números e símbolos, e ative a autenticação em dois fatores em contas online.
- Mantenha softwares e aplicativos atualizados para bloquear vulnerabilidades.
- Em redes sociais, evite postar dados sensíveis que possam ser usados por golpistas.
- Se suspeitar de algo, consulte familiares ou autoridades antes de agir.

Caso já tenha sido vítima, registre um boletim de ocorrência imediatamente. Para transferências via Pix, acione o mecanismo especial de devolução no banco. Essas ações aumentam as chances de recuperação.
A relevância de especialistas em direitos do consumidor
Em situações de fraudes, contar com um advogado especializado pode fazer toda a diferença para garantir os direitos dos consumidores.
Esses profissionais ajudam a navegar pelo sistema jurídico, buscando responsabilização de envolvidos, incluindo instituições financeiras que falham em proteger transações. Eles analisam perfis de risco, decisões judiciais e mecanismos de devolução, facilitando a recuperação de valores perdidos de forma ética e eficiente.
Histórias como a da idosa de São José dos Campos nos lembram da necessidade constante de vigilância contra fraudes financeiras. O golpe do bilhete premiado, apesar de clássico, evolui com a tecnologia, mas a conscientização pode reduzi-lo.
Os insights de Léo Rosenbaum na reportagem destacam não só os riscos, mas também caminhos para proteção.
Para detalhes completos e atualizações sobre a operação policial, leia a matéria completa no site do G1. Ficar informado é o primeiro passo para uma sociedade mais segura.