O recente acidente aéreo da Voepass, ocorrido na última sexta-feira (09/08/2024) e resultando na trágica perda de 62 vidas, trouxe à tona questões cruciais sobre a responsabilidade civil das companhias aéreas e as complexas implicações jurídicas associadas a tais eventos.
Léo Rosenbaum, sócio-fundador do escritório Rosenbaum Advogados e um dos maiores especialistas em Direitos do Passageiro Aéreo no Brasil, foi convidado pelo InfoMoney para comentar os aspectos legais envolvidos neste tipo de tragédia.
A responsabilidade civil das companhias aéreas em acidentes
Quando ocorre um acidente aéreo como o da Voepass, as discussões sobre responsabilidade civil emergem de forma intensa.
A responsabilidade civil das companhias aéreas é pautada por diversos instrumentos legais, sendo o Código de Defesa do Consumidor (CDC) um dos mais relevantes no contexto brasileiro. Conforme o artigo 14 do CDC, a responsabilidade é objetiva, ou seja, a companhia aérea deve responder pelos danos causados independentemente da comprovação de culpa.
Isso significa que as vítimas e seus familiares têm o direito de ser indenizados pelos danos sofridos, sem a necessidade de provar a culpa direta da companhia.
Outro diploma legal de extrema importância é o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), que, em seu artigo 256, também impõe ao transportador a responsabilidade por indenizar os danos decorrentes de morte ou lesão dos passageiros.
Esses dois marcos regulatórios são centrais para a busca de justiça por parte das vítimas em acidentes como o da Voepass.
Regulamentação da ANAC e padrões de segurança
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) desempenha um papel fundamental na regulamentação da aviação civil no Brasil, estabelecendo normas rigorosas de segurança e responsabilidades para as companhias aéreas.
Em situações de acidente, como o ocorrido com a Voepass, a ANAC segue uma série de procedimentos para investigar as causas e determinar as responsabilidades envolvidas. Entre as regulamentações mais relevantes está a Resolução Anac nº 400/2016, que detalha os direitos dos passageiros e as obrigações das companhias aéreas em casos de sinistros.
No cenário internacional, normas estabelecidas pela Convenção de Varsóvia e pela Convenção de Montreal também influenciam a responsabilização em casos de acidentes aéreos. Essas convenções tratam de aspectos como as limitações de responsabilidade das companhias aéreas e os procedimentos para compensação das vítimas.
No entanto, no Brasil, essas normas internacionais podem ser sobrepostas pelas disposições do CDC, que tende a ser mais protetivo para os consumidores.
Jurisprudência brasileira e conflito de normas
A jurisprudência brasileira tem evoluído para reforçar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor em detrimento das normas internacionais, como as previstas na Convenção de Varsóvia, especialmente no que se refere à responsabilidade civil e à indenização das vítimas de acidentes aéreos.
Um exemplo significativo é o acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no Recurso Especial nº 1.540.952/RJ, onde se reafirmou a primazia do CDC em casos de acidentes aéreos. Essa decisão do STJ é um marco na proteção dos direitos dos passageiros no Brasil, garantindo que as vítimas de acidentes como o da Voepass possam acessar compensações justas.
Investigação criminal e perícia técnica
A investigação de acidentes aéreos no Brasil é conduzida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que opera sob o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer).
O objetivo principal dessas investigações é identificar as causas do acidente para evitar que incidentes semelhantes ocorram no futuro. Essas investigações são de natureza técnica e não visam apurar responsabilidade criminal.
Paralelamente, as autoridades policiais, como a Polícia Federal e o Ministério Público, podem conduzir investigações criminais para determinar eventuais responsabilidades penais. A Lei nº 12.970/2014 assegura que as informações coletadas pelo Cenipa são sigilosas, mas podem ser compartilhadas com autoridades judiciais mediante solicitação.
Um ponto crucial dessas investigações é a análise da caixa preta da aeronave, que oferece dados essenciais sobre o desempenho da aeronave e a conduta da tripulação antes do acidente.
Segundo Léo Rosenbaum, “a apreensão e análise da caixa preta da aeronave são etapas cruciais tanto na investigação civil quanto na criminal, fornecendo dados essenciais sobre o desempenho da aeronave e a conduta da tripulação antes do acidente”.
Ações judiciais e o direito de regresso
Após a indenização das vítimas e seus familiares, a companhia aérea envolvida no acidente, como a Voepass, pode exercer o direito de regresso. Isso significa que a empresa pode buscar ressarcimento de terceiros que possam ter contribuído para o acidente, como fabricantes de peças, empresas de manutenção ou prestadores de serviços de controle de tráfego aéreo.
A correta atribuição de responsabilidade nesses casos depende de uma análise minuciosa das causas do acidente, frequentemente baseada nos dados fornecidos pela caixa preta e nos relatórios periciais.
A importância de umaabordagem jurídica robusta em casos como o acidente aéreo da Voepass
Para Léo Rosenbaum, o trágico acidente aéreo da Voepass destaca a necessidade de uma abordagem jurídica sólida e técnica para lidar com as complexidades da responsabilidade civil das companhias aéreas.
“As regulamentações da Anac, junto com o CDC e o CBA, fornecem um arcabouço legal que visa garantir justiça para as vítimas e responsabilização adequada dos envolvidos. A condução de investigações técnicas e criminais é essencial para a elucidação das causas e para a efetiva aplicação da Justiça”, afirmou Rosenbaum.
O acidente aéreo da Voepass serve como um lembrete sombrio das responsabilidades que as companhias aéreas devem assumir em situações de tragédia. A participação de Léo Rosenbaum na matéria do InfoMoney ressalta a importância de entender os aspectos legais e as nuances jurídicas que envolvem tais eventos.
Para quem deseja se aprofundar nesse assunto e entender em detalhes as opiniões e análises do Dr. Léo Rosenbaum, é altamente recomendável conferir a matéria completa no InfoMoney.