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Mês da consciência negra: conheça 8 expressões da língua portuguesa de origem racista

Descubra 8 termos racistas utilizados comumente no dia a dia e saiba como eliminar essas agressões do cotidiano.

25 de novembro de 2021

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No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra em todo o Brasil.

Em referência à data, a Defensoria Pública do Estado da Bahia publicou o “Dicionário de expressões (anti) racistas – E como eliminar as microagressões do cotidiano”.

A referida publicação tem como intuito conscientizar a população quanto ao uso de expressões racistas utilizadas comumente no dia a dia da sociedade brasileira.

Conheça 8 termos elencados desse dicionário e entenda porque o Dia da Consciência Negra é comemorado no mês de novembro.

O que é o Dia da Consciência Negra?

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, que deu as seguintes providências:

  • Art. 1º –  É instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares.

A data faz referência à morte de Zumbi, que na época era líder do Quilombo dos Palmares, localizado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil.

De acordo com a descoberta feita por historiadores no início da década de 1970, Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695 por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho.

Tal descoberta motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em São Paulo, no ano de 1978, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que os afro-brasileiros reivindicam.

Dessa forma, o 20 de novembro tornou-se a data para celebrar e relembrar a luta dos negros contra a opressão no Brasil.

8 expressões racistas do cotidiano

De acordo com o dicionário publicado pela Defensoria Pública da Bahia para celebrar o Dia da Consciência Negra, o nosso idioma foi construído sob forte influência do período de escravização.

Por conseguinte, muitas expressões que são frutos dessa construção racista seguem sendo utilizadas até hoje, ainda que de forma inconsciente ou não intencional. 

Nesse sentido, a publicação sugere que precisamos repensar o uso desses tipos de palavras e expressões e propõe deixá-las de lado. 

Vale frisar que as expressões fazem parte da série “Expressões racistas do cotidiano”, produzida e publicada pela Defensoria Pública do Estado da Bahia em suas redes sociais, agora reunidas no referido dicionário. Confira abaixo quais são algumas delas.

1 – Cabelo duro/bombril ou cabelo ruim

Essas são expressões comumente utilizadas para se referir a cabelos crespos. Apesar de ser considerado depreciativo, é utilizado até hoje no cotidiano brasileiro.

Como exemplo disso, a publicação cita o que aconteceu com a marca Bombril, que relançou em 2020 um produto denominado “Krespinhas”, originalmente lançado em 1952, que sugere que há semelhança entre a esponja de aço e a textura do cabelo de pessoas negras.

Na mesma linha, considera que essas expressões sugerem que “o que é ruim ou inferior está associado a características negras”. Em contraposição, a defensoria reforça que não existe cabelo ruim, “ruim é o preconceito”.

Por fim, como alternativas a essas expressões racistas do cotidiano, o dicionário sugere utilizar a expressão “cabelo cacheado ou crespo”.

2 – Mercado negro/lista negra/humor negro/ovelha negra

Segundo a publicação, essas expressões são consideradas de cunho racista por carregarem o simbolismo de associar sempre o negro a algo ruim, ilgeal ou inferior.

Logo, é indicado substituir esses termos pelas expressões: mercado clandestino/lista proibida/humor ácido/pessoa ruim.

3 – Programa de índio

A expressão “programa de índio” é utilizada para referir-se a um programa considerado ruim. Muitas vezes, as pessoas a utilizam para afirmar que determinado passeio ou evento é ou foi desagradável.

De acordo com o dicionário, é evidente o racismo contido nessa expressão, uma vez que decorre da herança discriminatória contra povos originários.

Enfim, é fundamentada na suposição de que os povos originários são menos interessantes ou inferiores.

A alternativa para essa expressão é “programa chato/desinteressante”.

Além do mais, a publicação sugere que a própria palavra índio não deve ser utilizada devido a ideia caricata que foi criada de selvageria pelos nossos colonizadores, além de ignorar a pluralidade dos povos indígenas, suas diferentes nações, traços culturais, costumes e crenças.

Nesse caso, o correto é utilizar a palavra “indígena” ou, ainda, a expressão “povos indígenas”.

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O Dia da Consciência Negra é uma data dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. | Imagem: Freepik (wayhomestudio)

4 – Denegrir

A palavra denegrir refere-se a “tornar negro”. Na língua portuguesa é utilizada como sinônimo de difamar ou caluniar.

Contudo, conforme expõe o dicionário, o termo reforça, mais uma vez, o ser negro como negativo ou ofensivo.

Nesse sentido, a alternativa proposta é deixar essa palavra de lado e empregar as palavras difamar ou caluniar, quando for necessário.

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5 – Samba do Criolo Doido

O “Samba do Criolo Doido” é uma paródia composta pelo escritor e jornalista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1968, para o Teatro de Revista.

Nele, o autor ironiza a obrigatoriedade imposta às escolas de samba de retratar em seus sambas enredos apenas fatos históricos.

Vale destacar, que a expressão debochada reforça um estereótipo e discriminação às pessoas negras. No Brasil, é utilizada comumente para se referir a coisas sem sentido, mirabolantes, sem nexo ou bagunçadas.

Por fim, a alternativa proposta é utilizar as expressões trapalhadas, confusão ou bagunça.

6 – Doméstica

Segundo o “Dicionário de expressões (anti) racistas” em questão, a palavra doméstica é derivada do termo domesticado, que faz alusão a algo que foi amansado/dominado.

Além do mais, o termo é pejorativo e carrega a trajetória de mulheres negras escravizadas que eram domesticadas por meio de torturas para trabalhar nos casarões.

7 – Feito nas coxas

A expressão “feito nas coxas” refere-se as telhas que eram feitas de argila, moldadas nas coxas dos escravos na época da escravidão.

Devido à forma como eram feitas, essas variavam de tamanho conforme a pessoa que as fazia, por isso, a expressão remete a algo mal feito, termo que é sugerido como alternativa ao “feito nas coxas”.

8 – Criado-mudo

Embora haja mais de uma explicação para a origem dessa palavra, uma delas faz referência aos criados, que geralmente eram pessoas escravizadas e que deveriam segurar objetos para seus senhores sem poder falar.

Por fim, o dicionário da defensoria sugere utilizar no lugar a expressão “mesa de cabeceira”.

Imagem em destaque: Freepik (freepik)

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