Apesar da fraca atividade econômica, as empresas mantiveram as contas em dia com os bancos e nível de calote registrou variação menor que um ponto percentual nas linhas de crédito em outubro, com uma única exceção: o cartão de crédito.
Para especialistas ouvidos pelo DCI, os dois itens estão relacionados: com o endurecimento dos bancos nas políticas de empréstimos – que reduziu o volume de concessões das linhas “baratas” – e o aumento dos juros – que impactou diretamente o fluxo de caixa das empresas -, as firmas se viram sem opções de financiamento e tiveram que recorrer a linhas com taxas maiores, como o cartão de crédito.
Segundo relatório do Banco Central, o índice de calote médio das empresas nos empréstimos com recursos livres – em que as taxas de juros são estipuladas livremente pelos bancos – ficou em 3,4% em outubro, uma queda de 0,2 pontos percentuais em relação a setembro e estável (variação de 0%) em relação a outubro do ano passado.
A inadimplência no rotativo do cartão de crédito – linha aberta automaticamente quando o usuário deixa de pagar a fatura – e nas compras parceladas, por sua vez, registrou uma alta de 11 pontos percentuais na variação mensal e de 6,4 pontos em 12 meses, fechando em 43,8%.
De acordo com Patrícia Krause, economista da Compagnie Française d’Assurance pour le Commerce Extérieur (Coface) América Latina, tanto a inadimplência média sob controle, quanto o aumento dos calotes em cartões já são reflexo da maior seletividade das instituições financeiras na análise de crédito.
“Os bancos estão mais restritivos com as linhas mais baratas e a empresa acaba tomando a linha mais cara por falta de opção”, observou.
Jair Lantaller, vice-presidente do Instituto Geoc, explicou que os bancos aumentaram a exigência de liquidez das empresas para as concessões. “Começaram a analisar mais o fluxo de caixa e o nível de endividamento”, disse.
Segundo os especialistas, com o crédito direcionado a firmas que apresentam menores riscos – na maior parte das vezes as empresas de grande porte -, os calotes ficaram, na média, sob controle, mesmo com a desaceleração econômica. A migração das empresas menores para os empréstimos com juros maiores, entretanto, resultou no aumento da inadimplência dessas linhas.
Paralelamente, aponta Lantaller, os juros estão em uma escalada positiva, o que dificulta às empresas quitarem as dívidas recorrentes e aumenta a necessidade de capital de giro – dados do BC mostram que as taxas para pessoa jurídica subiram 2,6 pontos percentuais em 12 meses e fecharam outubro em 23,4%, na média.
“Sem acesso aos empréstimos baratos, elas acabam recorrendo às linhas mais caras, o que contribui para o aumento da inadimplência em cartão”, avaliou o economista.
Pagamento em dia
Krause aponta ainda que as instituições financeiras, normalmente, são as últimas a sofrerem calote das empresas. “Primeiro, elas deixam de pagar os pequenos fornecedores. Depois os maiores fornecedores. Só depois vêm os bancos”, analisou a economista.
Segundo o advogado Léo Rosenbaum, especialista em Finanças e Banking pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a inadimplência fora do setor financeiro segue aumentando, o que elevou a taxa de ações de recuperação judicial – em que a empresa procura a Justiça para renegociar as dívidas.
Rosenbaum disse que os bancos costumam ter direito a 50% do crédito das empresas beirando a falência. “No final, quem acaba determinando a recuperação são os bancos.”
Os especialistas avaliaram que a tendência é que, com a inflação e os juros altos, os bancos continuem restritivos e o crédito permaneça evoluindo em ritmo fraco, de forma que a inadimplência no setor financeiro deve permanecer estável, na média, e seguir evoluindo nas linhas mais caras, como o cartão.
Fonte: Associação Brasileira de Factoring