Serão leiloados imóveis que sozinhos já valem uma fortuna.
Começa nesta segunda-feira (19) um mutirão para leiloar os bens dos devedores e acertar este calote. São mais de três milhões processos em que o trabalhador ganhou, mas não levou. Em alguns casos demora tanto que tem gente que morre antes de ver a cor do dinheiro.
No ano passado, aproximadamente cem mil trabalhadores conseguiram receber a grana. Para resolver esses processos, a Justiça do Trabalho usa bancos de dados para localizar e leiloar bens dos devedores.
Estão em tramitação na Justiça do Trabalho oito milhões e meio de processos. Cerca de três milhões em fase de execução. Ou seja, houve a condenação, mas o devedor simplesmente não cumpre o que a Justiça determinou. O juiz, então, manda penhorar bens do devedor que podem ir a leilão. Pelo país afora serão leiloados, esta semana, imóveis que sozinhos já valem uma fortuna.
Um prédio na Zona Leste de São Paulo está avaliado em R$ 18 milhões. Também poderão ser arrematados caminhões, carros , obras de arte e alguns itens curiosos.
“Tem de tudo, desde vestido de noiva, caixão de defunto, bens, móveis, utensílios de escritório, por exemplo, a variedade de bens é muito grande porque depende muito da atividade econômica do devedor. Então, quando o oficial de justiça penhora os bens, ele procura penhorar bens que tenham trânsito livre no comércio, que despertem maior atenção”, explicou o ministro Cláudio Brandão, do TST.
A leiloeira oficial Fabiana Cusato diz que os lances poderão ser dados pelas pessoas que forem ao local do leilão ou pela internet. E que o lance mínimo representa uma parte do valor do bem.
“Esses preços ficam de 40% para bens imóveis, 30% para veículos, e acontece de ter um só interessado e sair, realmente, pelo lance mínimo, é um grande negócio aí”, diz a leiloeira.
Uma sala comercial em um prédio em São Paulo está avaliada em R$ 295 mil. O lance mínimo é de R$ 118 mil.
Os valores obtidos com os leilões serão usados para pagar dívidas trabalhistas. E olha que tem gente esperando por esse dinheiro há quase vinte anos.
A aposentada Maria Cristina Borchardt tenta na Justiça receber as verbas da rescisão e o FGTSdesde 1998. Ela trabalhava na Vasp, uma companhia aérea que parou de operar em 2005. Em valores corrigidos, Cristina teria para receber R$ 1,6 milhão, mas perdeu a esperança de pôr a mão em todo esse dinheiro.
“Eu recebi uma parte, 11% do valor devido, no dia 8 de setembro do ano passado. O valor total da ação, isso aí a gente já sabe que não vai receber. Demorar muito já é sinônimo de justiça brasileira, em qualquer âmbito, não é só na trabalhista, qualquer uma”, queixou-se.
O marido dela estava na mesma situação com a mesma empresa. Faleceu sem receber.
“Ele morreu faz seis anos e não viu a cor do dinheiro”, disse Maria Cristina.
Segundo o Conselho Superior de Justiça do Trabalho, a Vasp é a maior devedora trabalhista do país. Os pagamentos estão sendo feitos por fases. Nesta semana, cerca de R$ 10 milhões devem ser distribuídos para 1,9 mil ex-funcionários.
O empresário Wagner Canhedo, diretor-presidente da Vasp, disse que enviou à vara do trabalho que cuida dos ex-funcionários da empresa uma proposta de acordo. Segundo Canhedo, as dívidas seriam pagas sem a necessidade de leilões.