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Compreenda o que é o orçamento secreto

Saiba o que é orçamento público, entenda como as emendas parlamentares o afetam e veja como surgiu o orçamento secreto.

19 de dezembro de 2022 - Atualizado 19/12/2022

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julga, desde o dia 7 de dezembro de 2022, ações que questionam a constitucionalidade do orçamento secreto.

Vale lembrar, que esse mecanismo de transferência de recursos públicos surgiu com a criação de uma nova modalidade de emendas parlamentares durante o governo Bolsonaro.

Contudo, tais emendas vêm sendo alvo de polêmicas, uma vez que a oposição política as vincula com a corrupção e a compra de apoio ao governo vigente.

Isso posto, veja a seguir a definição dos conceitos básicos que envolvem a compreensão desse tema e saiba porque surgiu a caracterização de “orçamento secreto” na mídia.

O que é o orçamento público?

Primeiramente, para compreender o que é o orçamento secreto é preciso entender alguns outros conceitos importantes que são utilizados no jargão parlamentar. Entre eles, destaca-se o orçamento público.

De acordo com o Ministério da Economia, o orçamento público é o instrumento de planejamento que detalha a previsão dos recursos a serem arrecadados, como por exemplo os impostos, e a destinação desses recursos, ou seja, em quais despesas eles serão utilizados a cada ano. 

Portanto, ele é fundamental para o equilíbrio das contas públicas, indicando quais serão as prioridades do Governo para a sociedade.

Anualmente, a União, cada estado e cada município elaboram seu orçamento. Assim, no Orçamento da União, por exemplo, é possível encontrar os valores que o Governo Federal pretende gastar com o seu funcionamento e com a execução das políticas públicas, como saúde, educação e segurança.

Enfim, conforme estabelecido na Constituição Federal, um novo orçamento deve ser elaborado pelo Poder Executivo e autorizado pelo Poder Legislativo na forma de uma Lei Orçamentária Anual. Seu período de vigência coincide com o ano civil.

Qual a legislação que disciplina o orçamento público?

Existe uma Lista de Atos Normativos disponibilizada no site do Ministério da Economia que disciplina o orçamento público. 

Entretanto, é possível destacar a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 que apresenta dois importantes documentos estabelecidos por lei. São eles: 

  • Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) – tem o papel de orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual. Inclui metas e prioridades para a administração pública no ano, estabelece diretrizes e metas de política fiscal, entre outros assuntos. A partir do que está estabelecido na Lei de Responsabilidade Fiscal, ela também aborda outros temas como, por exemplo, metas e riscos fiscais, equilíbrio de receitas e despesas;
  • Lei Orçamentária Anual (LOA) – apresenta a programação dos gastos governamentais, bem como a previsão das receitas para custear esses gastos. Trata-se de um único documento constituído por três partes: o Orçamento Fiscal, o Orçamento da Seguridade Social e o Orçamento de Investimento das Empresas Estatais.

É importante frisar que ambas são iniciadas por proposta do Poder Executivo no ano anterior ao de sua vigência, apreciadas e aprovadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pelo Presidente da República para serem validadas.

O que são emendas parlamentares?

Agora, é necessário entender outro conceito fundamental que envolve a compreensão do que é o orçamento secreto, trata-se da emenda parlamentar.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, as emendas parlamentares são um instrumento do Congresso Nacional para participar da elaboração do orçamento anual. 

Nesse contexto, permite que deputados e senadores realizem alterações no orçamento público anual, que é proposto pelo Executivo, uma vez que os parlamentares têm o direito de indicar onde deve ser aplicado determinado recurso, para, em tese, suprir as demandas de comunidades que representam. 

Quais são as áreas temáticas das emendas parlamentares?

De acordo com a Agência Senado, as áreas temáticas das emendas parlamentares são as seguintes: 

  • infraestrutura; 
  • saúde; 
  • integração nacional e meio ambiente; 
  • educação, cultura, ciência e tecnologia;
  • esporte; 
  • planejamento e desenvolvimento urbano; 
  • fazenda, desenvolvimento e turismo; 
  • justiça e defesa; 
  • poderes do Estado e representação; 
  • agricultura e desenvolvimento agrário;
  • trabalho, previdência e assistência social.

Quais são os tipos de emenda parlamentar?

As emendas dividem-se em quatro tipos:

  • Individuais (RP6) – verba destinada individualmente a parlamentares, com caráter impositivo desde 2015. Isso significa que cada parlamentar decide onde alocar o dinheiro. Tal emenda é obrigatória, ou seja, precisa necessariamente constar no orçamento;
  • De bancada (RP7) – verba destinada às bancadas estaduais, com caráter impositivo desde 2019. Tratam-se portanto de emendas coletivas, também obrigatórias, elaboradas por deputados do mesmo estado ou região;
  • De comissão (RP8) – verba destinada às comissões temáticas do Congresso. Não são impositivas, portanto, são emendas coletivas de comissões permanentes da Câmara ou do Senado. Não é obrigatória.
  • De relator (RP9) – emenda que permite ao relator-geral do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) alterar ou incluir despesas. Assim como a RP8, não é obrigatória.

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O que é o orçamento secreto?

É primordial entender que foram as emendas de relator que deram origem ao orçamento secreto.

Em síntese, o orçamento secreto ou emenda do relator é uma prática legislativa brasileira para destinação de verbas do orçamento público a projetos definidos por parlamentares sem a identificação destes. 

Conforme esclarece o Congresso Nacional, trata-se de emenda à programação da despesa a fim de corrigir erros e omissões de ordem técnica ou legal, recompor, total ou parcialmente, dotações canceladas, limitada a recomposição ao montante originalmente proposto no projeto e atender às especificações dos pareceres preliminares.

Vale destacar que a principal diferença desse tipo de emenda parlamentar para as outras consiste no fato de que ela é definida pelo deputado federal ou senador escolhido como relator-geral do orçamento a cada ano.

Ademais, é importante ressaltar que esse dispositivo legal concedeu ao Congresso Nacional a possibilidade de controlar uma quantia maior do Orçamento do que aquela a que deputados e senadores já tinham direito por meio dos outros tipos de emenda parlamentares.

Quem é o “relator”?

O relator é o parlamentar designado pelo presidente da comissão para apresentar parecer sobre matéria de competência do colegiado. 

O relator é designado no período de dois dias úteis após o recebimento do projeto e é escolhido de acordo com a proporção das bancadas partidárias ou blocos. 

Cabe salientar que o relator do projeto é também o das emendas de Plenário, mas fica impedido de relatar emendas por ele apresentadas em Plenário, caso em que é designado outro senador para essa tarefa. 

Por fim, excepcionalmente o presidente da comissão pode atuar como relator.

Quando surgiu o orçamento secreto?

A iniciativa para a criação do orçamento secreto, com as emendas RP9, partiu do Legislativo em 2019 durante a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020

Como surgiu o termo orçamento secreto na mídia?

A denominação foi dada pelo jornal O Estado de S.Paulo, que publicou, em janeiro de 2021, uma reportagem semanal sobre a liberação de R$ 3 bilhões do governo a centenas de congressistas em meio às eleições para a Câmara dos Deputados e para o Senado Federal. 

Por que as emendas de relator são chamadas de orçamento secreto?

A caracterização como “orçamento secreto” surgiu na mídia, tendo em vista a falta de transparência acerca dos valores de cada repasse, dos nomes dos parlamentares envolvidos e dos destinos das verbas.

Ao contrário das emendas tradicionais, esses dados não são informados, o que além de dificultar a fiscalização, pode facilitar, na prática, os casos de corrupção. 

Qual é o valor do orçamento secreto?

Em 2020, as emendas de relator tiveram R$ 13,1 bilhões em valores aprovados. Já em 2021, esse valor subiu para R$ 17,14 bilhões. 

Segundo o Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), em 2022 essa quantia corresponde a R$ 16 bilhões.

Portanto, a soma desses três anos de valores autorizados chega a R$ 46,2 bilhões.

Enfim, vale destacar que o montante destinado desde o primeiro ano de início das emendas de relator superou demasiadamente a cifra destinada aos outros tipos de emendas parlamentares.

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As emendas de relator conhecidas como orçamento secreto estão na mira do STF. | Imagem: Freepik (Racool_studio)

Julgamento das ações no Supremo Tribunal Federal (STF)

Cabe lembrar que em novembro de 2021, o plenário do Supremo referendou a liminar da ministra Rosa Weber que suspendeu a execução dos recursos orçamentários das emendas do relator.

Já em dezembro do mesmo ano, a relatora liberou a continuidade das emendas depois que o Senado e a Câmara dos Deputados se comprometeram a seguir novas regras de transparência.

Diante disso, as emendas de relator passaram a ser questionadas em ações judiciais, por não oferecerem a transparência que foi determinada pelo STF, segundo os partidos que as impetraram, sendo eles o PSOL, o PSB, o Cidadania e o PV.

Agora, o plenário deve avaliar, em definitivo, se o Legislativo efetivamente deu transparência às emendas.

Imagem em destaque: Freepik (bedneyimages)

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