
Em uma decisão histórica, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) reconheceu chargeback cláusula abusiva em contratos de gestão de pagamentos online.
Essa vitória judicial, proferida em 26 de março de 2025, pode transformar a relação entre lojistas e intermediadoras de pagamento, oferecendo maior proteção contra prejuízos causados por fraudes em transações de cartão de crédito.
O que é chargeback?
Chargeback é o mecanismo pelo qual o titular de um cartão de crédito solicita o estorno de uma transação, geralmente em casos de fraude em transações, desacordo comercial ou não entrega do produto.
Esse processo é uma ferramenta essencial de proteção ao consumidor, mas pode gerar sérias perdas para lojistas, especialmente quando cláusulas contratuais transferem todo o risco para o comerciante. No Brasil, o comércio eletrônico enfrenta altas taxas de chargebacks, com o país registrando uma taxa de 3,48%, segundo dados recentes (Chargeback Statistics).
A cláusula de chargeback e sua controvérsia
A cláusula de chargeback em contratos de pagamento frequentemente estipula que o lojista arca com todos os custos de estornos, mesmo em casos de fraude fora de seu controle. Essa prática tem sido criticada por ser desproporcionalmente onerosa, transferindo o risco da atividade da intermediadora para o comerciante.
Artigos jurídicos apontam que tal cláusula pode violar o Código de Defesa do Consumidor (CDC), especialmente quando impõe condições abusivas (Validade da Cláusula Chargeback).
Decisão judicial: chargeback cláusula abusiva
Em um caso marcante, um lojista moveu ação contra a Vindi (antiga Yapay Pagamentos Online Ltda.) após sofrer um prejuízo de R$2.953,50 devido a um chargeback fraudulento.
A transação, realizada em 6 de agosto de 2024, envolveu a compra de produtos por um suposto cliente que, posteriormente, foi identificado como fraudador. Apesar de o lojista ter entregue os bens, a Vindi informou que o contrato não cobria chargebacks e orientou a resolução direta com o cliente.
A decisão, baseada no CDC, aplicou a teoria finalista mitigada, reconhecendo a relação entre o lojista e a intermediadora como consumerista. A corte declarou a cláusula 7.1.2 do contrato abusiva, por transferir indevidamente o risco da fraude ao lojista, e condenou a Vindi a reembolsar o valor perdido, acrescido de correção monetária e juros de 1% ao mês, além de honorários advocatícios de R$2.500,00.
Implicações para lojistas e comerciantes
Essa decisão estabelece um precedente significativo para o comércio eletrônico no Brasil.

Lojistas agora têm um argumento jurídico sólido para contestar cláusulas de chargeback em contratos com intermediadoras de pagamento.
A nulidade da cláusula reforça que a responsabilidade do intermediador deve incluir a segurança das transações, especialmente quando fraudes decorrem de falhas em seus sistemas. Esse precedente pode reduzir os prejuízos financeiros enfrentados por pequenos e médios comerciantes, que frequentemente arcam com perdas sem meios de prevenção eficazes.
Além disso, a decisão alinha-se com outras sentenças do TJSP, que desde 2017 têm reconhecido a abusividade de cláusulas semelhantes (TJSP Notícia). Isso sugere uma tendência judicial de maior proteção aos lojistas, embora haja divergências em alguns tribunais sobre a aplicação do CDC nesses casos.
Como prevenir chargebacks?
Embora decisões judiciais como essa sejam um avanço, lojistas podem adotar medidas preventivas para minimizar o risco de chargebacks:
- Sistemas de segurança: implementar ferramentas como 3D Secure e softwares de detecção de fraude.
- Registros detalhados: manter comprovantes de entrega e comunicação com clientes.
- Políticas claras: informar os consumidores sobre prazos e condições de devolução.
- Seguros antifraude: contratar coberturas que protejam contra perdas por chargebacks.
- Revisão contratual: analisar cláusulas de contratos de pagamento com apoio jurídico para evitar termos abusivos.
Essas estratégias, combinadas com a orientação de um advogado especializado, podem fortalecer a posição do lojista em disputas e reduzir impactos financeiros.
A Importância de um advogado especializado
Casos envolvendo chargebacks e cláusulas abusivas exigem conhecimento técnico em direito do consumidor e direito bancário. Um advogado especializado pode:
- Avaliar contratos e identificar cláusulas potencialmente abusivas.
- Reunir evidências para contestar chargebacks indevidos.
- Representar o lojista em ações judiciais, maximizando as chances de sucesso.

A assessoria jurídica é essencial para navegar pelas complexidades do comércio eletrônico e garantir que os direitos do lojista sejam protegidos, especialmente em um mercado onde fraudes são frequentes.
A decisão do TJSP de 26 de março de 2025 marca um avanço na proteção dos lojistas contra cláusulas abusivas em contratos de pagamento.
Ao declarar a nulidade da cláusula de chargeback, o tribunal reforçou a responsabilidade do intermediador em assegurar transações seguras, aliviando o ônus financeiro dos comerciantes.
Lojistas devem permanecer vigilantes, revisando contratos e buscando apoio jurídico para proteger seus negócios no crescente mercado de comércio eletrônico.
Informações do caso
Data da decisão: 26 de março de 2025
Juíza: Dra. Paula Jacqueline Bredariol de Oliveira
Número do processo: 1015175-18.2024.8.26.0344
Valor da indenização: R$2.953,50 (mais correção monetária e juros) e honorários advocatícios (R$2.500,00)
Essa vitória judicial destaca os prejuízos causados pela Vindi ao lojista, que entregou os produtos e ainda enfrentou a perda financeira devido a uma fraude fora de seu controle. A decisão reforça a necessidade de contratos equilibrados e a relevância de um advogado especializado para garantir os direitos do consumidor e dos comerciantes.